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29 de abril de 2017

Estudo clínico, duplo-cego, randomizado, em crianças com amigdalites recorrentes submetidas a tratamento homeopático

REVISTA DE HOMEOPATIA 2017;80 1

Estudo clínico, duplo-cego, randomizado, em crianças com amigdalites recorrentes submetidas a tratamento homeopático.

Sergio E. Furuta¹, Luc L.M. Weckx², Claudia R. Figueiredo³

 Resumo Objectivo: avaliar a eficácia e segurança do tratamento homeopático em crianças com amigdalite recorrente, com indicação cirúrgica. Métodos: estudo prospectivo, duplo-cego, randomizado, em que foram incluídas 40 crianças com idade variando de 3 a 7 anos, 20 crianças foram tratadas com medicação homeopática individualizada e 20 crianças receberam placebo. A duração do estudo de cada paciente foi de 4 meses. A avaliação dos resultados foi clínica, por meio de questionário padrão, de exame otorrinolaringológico, no primeiro e no último dia de tratamento. Utilizou-se como critério de amigdalites de repetição a ocorrência de 5 a 7 episódios de amigdalites agudas ao ano.

Resultados: das 18 crianças que completaram o tratamento homeopático, 14 não apresentaram nenhum episódio de amigdalite aguda bacteriana; das 15 crianças que receberam placebo por 4 meses, 5 pacientes não apresentaram amigdalite, com diferenças estatisticamente significantes (p=0,015). Nenhum dos pacientes apresentou efeitos colaterais aos medicamentos prescritos.

Conclusões: o tratamento homeopático foi eficaz nas crianças com amigdalites recorrentes, quando comparado ao placebo, excluindo 14 crianças (78%) da indicação cirúrgica. O medicamento homeopático não provocou eventos adversos nas crianças.

Palavras-chave Homeopatia; Amigdalite recorrente; Crianças; Estudo clínico randomizado e controlado Prospective, randomized, double-blind clinical trial on the efficacy of homeopathic treatment in children with recurrent tonsillitis

 Artigo originalmente publicado em Revista de Homeopatia 2007;70:21-26.
1 Mestre em Homeopatia pela Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo; pesquisador homeopata da Disciplina de ORL Pediátrica da EPM/UNIFESP; especialista em Pediatria e Homeopatia; 2 Professor titular do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP; 3 Doutora em medicina pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP; especialista em Otorrinolaringologia e Homeopatia. * s.furuta@uol.com.br

 Introdução A amigdalite aguda é um processo inflamatório infeccioso agudo das tonsilas palatinas e a antibioticoterapia têm sido comummente indicada. Na primeira metade do século a amigdalectomia e a adenoidectomia chegaram a ser indicadas aos mínimos sintomas, até como cirurgia de rotina para quase todas as doenças de crianças. A partir dos anos 60, estudos mostraram a ineficácia da cirurgia em muitos casos, surgindo dúvidas sobre a indicação cirúrgica. Nessa época, iniciaram-se pesquisas sobre o papel imunológico das estruturas do anel linfático de Waldeyer , tornando a indicação cirúrgica mais conservadora e criteriosa [1].

A homeopatia, criada pelo médico alemão Samuel Hahnemann em 1796, tem sido utilizada com sucesso, pelos homeopatas na prevenção e tratamento das doenças das tonsilas palatinas e faríngea, reduzindo o número de pacientes com indicação cirúrgica [2]. Entretanto, a literatura a respeito da eficácia do medicamento homeopático é escassa.
No Brasil a homeopatia é reconhecida como especialidade médica pela Associação Médica Brasileira desde 1979 e pelo Conselho Federal de Medicina desde 1980. Porém, sabe-se que a homeopatia foi introduzida no Brasil, na época do Império. A primeira escola de formação homeopática, a Escola Homeopática do Brasil, foi fundada no Rio de Janeiro em 1845 pelo médico francês Benoit Mure e o cirurgião português João Vicente Martins, reconhecida pelo governo imperial em 1846. O governo imperial oficializou as farmácias homeopáticas em 1880, através do decreto 9.554. Somente em 1952, a lei 1.552 tornou obrigatório o ensino de noções de farmacotécnica homeopática nas faculdades de farmácia do país [3]. Homeopatia (grego homoiós= semelhante + páthos= doença ou sofrimento) designa a ciência terapêutica baseada na lei natural de cura Similia similibus curentur (semelhantes curados pelos semelhantes). Representa um método terapêutico que permite um confronto de semelhança entre os sintomas de um doente com os obtidos pela experimentação de uma substância em indivíduos aparentemente sadios e sensíveis. Essa substância, medicamento homeopático, recebeu a denominação de simillimum ou remédio ‘de fundo’ e farmacologicamente é preparada sob a forma de ultra diluição [4].

Os princípios da homeopatia são: 1) lei da semelhança; 2) experimentação no homem sadio (as experimentações das drogas não devem ser em doentes ou animais, mas em homens sadios e sensíveis. O conjunto de manifestações apresentadas durante a experimentação recebe o nome de patogenesia); 3) 3emédio único (utilizar um único medicamento, o simillimum); e 4) dose mínima (medicamento diluído e dinamizado). 

Os medicamentos homeopáticos não são simples diluições de uma substância ao infinito. Cada vez que o medicamento é diluído, é agitado vigorosamente, mecanismo denominado sucussão. Acredita-se que esta agitação ‘desperta’ uma energia medicamentosa latente (dinamização). Provêm dos três reinos : vegetal, mineral e animal. A preparação medicamentosa geralmente é feita nas escalas decimal e centesimal. Na escala decimal dilui-se uma parte da substância básica em 9 partes de um veículo e agita-se (sucussão) 100 vezes (1 d). O veículo geralmente é o álcool etílico a 30 %. Na centesimal a diluição é feita com uma parte da substância básica em 99 partes de veículo e sucussiona-se 100 vezes (1cH = 1 centesimal hahnemaniana). Define-se medicamento isopático, segundo a Farmacopeia Homeopática Brasileira [6], como preparações medicamentosas de uso homeopático obtidas a partir de produtos  biológicos, quimicamente indefinidos, secreções, excreções, tecidos e órgãos, patológicos ou não, produtos de origem microbiana e alérgenos. Segundo Costa [7], isopatia é o método de curar as doenças por meio dos seus agentes causais manipulados mediante técnica homeopática (dinamizados). O mesmo autor preconiza a associação da homeopatia e isopatia nos tratamentos, utilizando três medicamentos para um mesmo paciente: (a) medicamento baseado na totalidade sintomática do paciente, o remédio constitucional, ou ‘de fundo’, ou ‘sósia’ medicamentoso homeopático; (b) remédio episódico ou sindromico, isto é, aquele que corresponde aos sintomas agudos, mais incomodativos, geralmente localizados, normalmente um remédio específico para a patologia física, dentro de uma conduta organicista; e (c) medicamento etiopatogenico e /ou fisiopatológico da doença; conforme o caso clínico a saber: c.1) nosódios – isopáticos não lisados ou destruídos, e/ou vivos específicos, dinamizados, autógenos; c.2) alérgenos ou mediadores dinamizados; e c.3) organoterápicos dinamizados. Denomina-se nosódio (grego nosos: doença) o medicamento preparado segundo a farmacotécnica homeopática, com produtos patológicos vegetais, animais ou de uma cultura bacteriana 8 . Este estudo, duplo-cego, randomizado, visou avaliar a eficácia e segurança do tratamento homeopático em crianças com indicação cirúrgica de amigdalectomia por infecções recorrentes. Casuística Foram selecionados 40 pacientes do ambulatório da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP e do Hospital São Paulo, no período de março/2000 a setembro/2001, com faixa etária de 3 a 7 anos, com indicação cirúrgica de amigdalectomia por infecções de repetição, aguardando vaga para cirurgia. Excluíram-se deste estudo pacientes com doenças sistémicas e os com imunodeficiência. Considerou-se como amigdalite aguda bacteriana o conjunto de sintomas: dor de garganta, febre (>37,8º C), adinamia, odinofagia, inapetência e aumento dos linfonodos cervicais, associados ao exame físico que deveria mostrar hiperemia, edema e exsudato purulento [9]. Quanto à frequência das crises foi considerado como pacientes com amigdalite aguda de repetição os que apresentaram 5 a 7 episódios de amigdalite aguda por ano [10]. A amostra foi dividida e randomizada em dois grupos duplo-cego: Grupo I - 20 crianças com diagnóstico de amigdalite recorrente, submetidas a tratamento homeopático, por 4 meses; Grupo II - 20 crianças com diagnóstico de amigdalite recorrente, submetidas a tratamento com placebo, por 4 meses. Os pais ou responsáveis pelo paciente foram informados do objectivo do estudo e obtido o consentimento escrito dos mesmos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo – EPM.
Métodos O tratamento homeopático constou da administração de 3 medicamentos, para todos os pacientes do grupo I, baseado na experiência pessoal de Costa [7] e Linhares [2]: 1) medicamento constitucional do paciente, também conhecido homeopaticamente como ‘simillimum’ ou ‘de fundo’, individualizado, baseado nas semelhanças físicas e mentais do paciente, obtidas na anamnese, na potência de 30cH em dose única, reavaliado a cada 4 semanas, por 4 meses. Utilizou-se o programa de informática Repertório Homeopático Digital II [11] para auxiliar na determinação do medicamento simillimum; 2) medicamento baseado nas características orgânicas, locais, das tonsilas palatinas, Baryta carbonica na potência 6cH , diariamente, por 4 meses; e 3) medicamento isopático, composto por Streptococcus beta hemolítico, Staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae e Amígdala, manipulados segundo a técnica homeopática na potência 21cH, diariamente, por 4 meses. Os pacientes do grupo II receberam placebo como se fosse o medicamento constitucional do paciente em dose única, placebo como se fosse Baryta carbonica diariamente, placebo como se fosse o composto Streptococcus beta hemolítico, Staphylococcus aureus, Haemophilus influenzae e Amígdala, diariamente, por 4 meses. O pesquisador e o paciente não sabiam se o medicamento administrado era homeopático ou placebo. A listagem dos medicamentos randomizados foi feita pelo farmacêutico homeopata, responsável pela confecção dos medicamentos e só foi divulgada após o termino do tratamento de todos os pacientes. O placebo foi constituído por álcool etílico a 30%, que foi o veículo do medicamento homeopático. A função do álcool é o de conservante. Todos os medicamentos utilizados neste estudo estão de acordo com a Farmacopeia Homeopática Brasileira [6].
A avaliação clínica constou de questionário padrão, em que foram mensalmente, por 4 meses, indagados em número e intensidade os episódios de amigdalites de repetição. Todos os pacientes foram submetidos a avaliação otorrinolaringológica que constou de exame otorrinolaringológico (oroscopia, rinoscopia anterior e otoscopia) no primeiro e no ultimo dia de tratamento, por um otorrinolaringologista da Disciplina de Otorrinolaringologia Pediátrica da Escola Paulista de Medicina / UNIFESP. Os pacientes que apresentaram crises agudas de amigdalite bacteriana foram medicados com antimicrobianos. No final do estudo, todos os pacientes que mantiveram a indicação cirúrgica foram encaminhados para cirurgia. No método estatístico, foi aplicado o teste exacto de Fisher ou uma extensão para tabelas maiores que 2 x 2, tendo-se fixado como nível de significância o valor 0,05 ou 5%, assinalando-se com um asterisco (*) os valores significantes.
Resultados Foram recrutadas inicialmente 40 crianças com diagnóstico de amigdalite recorrente com indicação cirúrgica, mas fizeram o acompanhamento por 4 meses 33 pacientes, sendo 20 (61%) do sexo feminino e 13 (39%) do sexo masculino, com idades variando de 3 a 7 anos . Ocorreram 7 desistências, sendo 2 no grupo I, medicação homeopática, e 5 no grupo II, placebo. As 2 desistências no grupo medicação homeopática foram por morar longe, com dificuldade de condução (casos 24 e 37). No grupo placebo foram por mudança de cidade (caso 4), amigdalite e antecedente de convulsão febril (caso 22) e causa ignorada (casos 14, 27, 37). Os medicamentos homeopáticos, prescritos individualmente pelo princípio da similitude para as crianças do grupo I foram: Lycopodium clavatum, Pulsatilla nigricans, Lachesis muta, Belladonna, Nux vomica e Phosphorus . Gráfico 1 – Medicamentos prescritos / amigdalite recorrente / Grupo I No grupo tratado com medicamento homeopático (grupo I), 4 pacientes (22%) apresentaram amigdalite aguda, tendo sido submetidos a antibioticoterapia, e 14 pacientes (78%) não tiveram amigdalite (gráficos 2 e 3) e (tabela 1). No grupo II (placebo) ocorreram amigdalites em 10 pacientes (67%), os quais foram submetidos a tratamento com antibiótico ( gráficos 2 e 4). Não tiveram amigdalite, 5 pacientes (33%). A análise estatística mostrou diferença significativa (P=0,015 ou 1,5% *) , indicando que houve uma eficácia maior no grupo submetido a tratamento homeopático. Não ocorreram eventos adversos nos pacientes dos grupos I e II, relativos à utilização dos medicamentos homeopáticos e placebo. 7 5 3 2 1 1 N Lycopodium Pulsatilla Lachesis Belladonna Nux vomica Phosphorus
Tabela 1: Evolução dos pacientes, com amigdalite recorrente Teste exacto de Fisher: P= 0,015 ou 1,5% * Grupo Não houve amigdalite Houve amigdalite Total Placebo 5 10 15 Medicação 14 4 18 Total 19 14 33 Gráfico 2: Evolução dos pacientes com amigdalite recorrente no grupo homeopático e no grupo placebo. Teste exacto de Fisher: p= 0,015 ou 1,5%* Gráfico 3 – Amigdalite recorrente: Evolução dos pacientes do grupo I - Ocorrência de amigdalite Gráfico 4 – Amigdalite recorrente: Evolução dos pacientes do grupo IIOcorrência de amigdalite 10 4 5 14 0 2 4 6 8 10 12 14 Frequência absoluta Houve Não Houve Placebo Medicação
Discussão A homeopatia tem sido utilizada como uma alternativa na terapia das amigdalites de repetição, com a finalidade de se evitar o uso abusivo dos antibióticos e diminuir as indicações cirúrgicas. Lustoza publicou, em 1941, o artigo: “Afecções da garganta e seu tratamento à luz da homeopatia” [12], que ainda continua actual. Este artigo mostra que os conceitos e tratamentos homeopáticos se mantém ao longo dos anos. A dificuldade na utilização do método duplo-cego randomizado nas pesquisas homeopáticas está na característica da homeopatia em individualizar cada paciente, determinando pelo principio da similitude, o medicamento específico (simillimum), independente do diagnóstico clínico em questão. A homeopatia trata o doente como um todo, não apenas um sintoma ou uma doença. Assim, para o diagnóstico clínico de amigdalite recorrente foram seleccionados pelo princípio da similitude, 6 medicamentos homeopáticos distintos, individualizados. O tempo médio na consulta inicial deste estudo foi de 60 minutos, e o atendimento de todos os pacientes foi realizado por um único médico. Este foi um dos factores que dificultou o aumento do número de pacientes. O efeito placebo de uma boa relação médico paciente nas consultas homeopáticas sempre foi motivo de discussão entre alopatas e homeopatas. O argumento de que a eficácia do tratamento homeopático seria decorrente da sugestão encontra um contra argumento por parte dos homeopatas que tratam animais e crianças pequenas, que não seriam sugestionáveis. Gonçalves justifica a opção pelo modelo experimental, utilizando ratas na sua pesquisa, para evitar o “efeito médico-paciente” [13]. Apesar de Hahnemann [14], ter apregoado o remédio simillimum como o único capaz de curar homeopaticamente um enfermo com doença crónica, sem necessidade de associações, optou-se neste trabalho por uma linha pluralista, utilizando-se remédio de fundo, remédio organicista e isopáticos, de acordo com a experiência pessoal dos autores e de outros como Costa [7] e Linhares [2]. O medicamento homeopático Baryta carbonica utilizado em todos os pacientes do grupo I é considerado como um dos clássicos por Lustoza [12], indicado por Cairo [15], Costa [7], Tejada [16], Hom [17] e Linhares [2]. Na composição do medicamento isopático, isto é, aquele medicamento preparado homeopaticamente a partir dos agentes que causam as doenças, as bactérias Streptococcus beta hemolítico, Staphylococcus aureus e Haemophilus influenzae foram selecionadas por serem as principais causadoras das amigdalites bacterianas agudas [18, 19]. Ocorreram desistências de 7 pacientes (17,5%), sendo 2 (5%) no grupo I (medicamento homeopático) e 5 (12,5%) no grupo II (placebo). Nota-se um predomínio de desistências no grupo placebo, podendo-se supor que estes pacientes não estavam motivados a prosseguir o tratamento, talvez por falha terapêutica. A maioria dos pacientes que procuram tratamento homeopático o fazem por achar que é natural e mais seguro que o tratamento tradicional, alopático. Nesta pesquisa não foram constatados efeitos colaterais dos medicamentos homeopáticos utilizados.

Conclusões Dos resultados obtidos pela avaliação clínica de 33 pacientes com amigdalite recorrente com indicação cirúrgica , com 3 a 7 anos de idade, submetidos a tratamento homeopático ou placebo, duplo-cego, randomizado, com acompanhamento por 4 meses, pode-se concluir que: 1) o tratamento homeopático foi eficaz nos pacientes com amigdalite recorrente, excluindo 14 pacientes (78%) do grupo I, da indicação cirúrgica; O medicamento homeopático não provocou efeitos colaterais nos pacientes. 

Agradecimentos: Ao Dr. Carlos Roberto Dias Brunini pelo apoio e à farmacêutica homeopata Andréa Cristina de Oliveira pelo fornecimento dos medicamentos. Aos pós-graduandos e especializandos da Disciplina de ORL Pediátrica da UNIFESP/EPM pelas consultas e exames otorrinolaringológicos deste trabalho.

Referências 1. Rosenfeld RM, Green RP. Tonsillectomy and adenoidectomy: changing trends. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1990; 99: 187-191. 2. Linhares W. - Homeopatia em pediatria. 4a ed. São Paulo: Homeolivros; 2000, p.49- 50. 3. Rosenbaum P. Homeopatia: medicina interativa, história lógica da arte de curar. Rio de Janeiro: Imago; 2000. p. 74-82. 4. Kossak-Romanach A. Homeopatia em 1000 conceitos. 3 a ed. São Paulo: Elcid; 2003. 5. Eizayaga FX. Tratado de medicina homeopática. Buenos Aires: Marecel; 1992, p.31- 35. 6. Farmacopeia Homeopática Brasileira. 2.ed. parte I, São Paulo: Atheneu; 1997. 7. Costa RA. Homeopatia atualizada: Escola brasileira. 3a ed. Petrópolis: Vozes; 1988, p. 78, 80, 94,145,146. 8. Kossak-Romanach A. Imunomodulação, ultradiluições hahnemannianas e isoterapia. São Paulo: Elcid; 2003, p.122-129. 9. Brodsky L. –Modern assessment of tonsils and adenoids. Ped Clin North America. 1989; 36(6): 1551- 1571. 10. Bluestone CB. Current indications for tonsillectomy and adeoidectomy. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1992; 101: 58-64. 11. Ribeiro Filho A, Bronfman Z. Repertório Homeopático Digital II. São Paulo: Organon; 2000. CD-ROM 12. Lustoza G. Afecções da garganta e seu tratamento à luz da homeopatia. Rev. Homeop. 1941;6(65/67): 231-234. 13. Gonçalves MI. O uso da homeopatia no tratamento de infecção urinária em ratos. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2001. REVISTA DE HOMEOPATIA 2017;80 9 14. Hahnemann, CSF. – Organon da arte de curar. 6a ed. São Paulo: Robe; 1996. 15. Cairo N. Guia de medicina homeopática. 21a ed. São Paulo: Teixeira; 1982, p.673, 1041, 1042. 16. Tejada, JMP. Tratamento actual de las faringoamigdalitis. Homeopatia Mex. 1991; (553):16-21. 17. Hom, JCDF. – La amigdalitis aguda y cronica y su tratamento homeopático. Homeopatia Mex. 1992; 60(559): 9-15. 18. Silva VC, Figueiredo CR, Weckx LLM. Amigdalites. Rev. Bras. Med.1999;56:15-26. 19. Figueiredo CR, Pignatari SSN, Valera FCP. et al. Rinossinusites e faringotonsilites na infância. Pediatria Moderna. 2001;12: 647-656. 

28 de abril de 2017

Matéria Médica Cobras



"Medicamentos derivados do reino animal agem enérgica e rapidamente (...) A ansiedade e apreensão são sintomas de muitos venenos animais, especialmente das cobras.".Farrington Matéria Médica Comparativa.
Os venenos de cobra são muito úteis em condições agudas e virulentas como escarlatina, febre amarela, meningite, difteria e febre tifóide. Isso representa a acção violenta e a crise inerentes às acções agudas dos venenos animais. Na esfera crónica, os remédios de cobra reflectem degeneração, senilidade, embotamento, apoplexia (AVC) e embriaguez. A família das cobras demonstra um retrato homogéneo que contem muitos sintomas diferenciais. Os remédios de cobra mais comummente usados ​​são Lachesis (Lachesis mudo – crotálido da família dos viperídeos, cujo tamanho pode atingir 3 a 4 m de comprimento, é a maior serpente venenosa do mundo. Originária das regiões muito húmidas e frescas da América central e do Sul.), Naja (Naja é um género de serpente peçonhenta da família Elapidae, Originária de toda a África, Sudoeste da Ásia, Sul da Ásia e Sudeste Asiático.) e Crotalus (Crotalus é um género de serpente da família Viviparidade. São ovovivíparo ou vivíparas, possuem cauda com guizo, cabeça triangular e presas que inoculam veneno). Eles têm acções semelhantes na esfera mental e sensório-motor e produzem estados exaltados semelhantes, uma loquacidade peculiar, com amnésia.
Todos os remédios de cobra partilham o êxtase, a confusão moral, as imaginações vividas, a loquacidade, a suspeita, o ciúme, a inveja, o orgulho e a tristeza misturados com a ansiedade.
Necessitam alargar as suas roupas < com sono e ao despertar.
Lachesis é o veneno de cobra mais utilizado e é bem conhecido pela sua agressividade, vivacidade, loquacidade  e saltos frequentes de um assunto para outro ou repetindo a mesma coisa várias vezes.
Naja é mais sombrio, e menos agressivo que Lachesis, tem palpitações cardíacas e dores de coluna. 
Crotalus tem um humor choroso e loquacidade com desejo de fugir. 
Cenchris manifesta raiva à noite, tem suspiros, e delírios parece que está em dois lugares ao mesmo tempo.
Elaps tem medo da chuva, de estar sozinho, dos ladrões, sensação na boca do estômago.
Vipera tem humor hipocondríaco. De dia sente alegria e à noite, deseja ir para casa, chora e tem dores no peito com frieza e dificuldades respiratórias. 
Lachesis trigonocephalus provado por Dr. Hering, há sessenta anos.
Crotalus horridus provado pelo Dr. Muir.

Uma pequena dose de Lachesis pode fazer com que o provador se sinta como se pudesse estudar sem fadiga. Há emoção nervosa. Uma história, por exemplo, excita-o indevidamente. Anedotas o levam a lágrimas. Rapidamente aparece o estado oposto. Os sintomas nervosos mudam para prostração, ou até paralisia completa. Os nervos especialmente afectados pelos venenos de serpente parecem ser o acessório pneumogástrico e espinal; Consequentemente, encontram-se os sintomas da laringe, da respiração e do coração. 
Verificou-se que os venenos de cobra coagulam o sangue; mas logo o sangue está tão decomposto que não tem mais o poder de coagular. Torna-se líquido, escuro, e sai por cada orifício do corpo. Assim, são produzidas hemorragias, que lhe são características. As hemorragias são mais observados em Lachesis e Crotalus e menos em Naja
Estes venenos actuam bem em inflamação ligeira, em gangrena, febres de tipo tifóide, etc.

Produzem uma coloração da pele amarela, não é icterícia, e não deve ser confundido com essa afeição. Ela vem do sangue, e é devido à decomposição desse fluido, e não à coloração da pele com bilirrubina, este sintoma é mais marcado no Crotalus
A pele seca e áspera, sem nenhuma vitalidade é mais característico de Lachesis. 
Como o coração é fraco os pés são  frios, indicativo de congestionamento e com tremores - não o tremor de mero nervosismo, é o tremor de fraqueza por envenenamento de sangue. 
Os sintomas cardíacos de Naja assemelham-se muito aos de Lachesis, mas seus sintomas cardíacos apontam mais marcadamente para os efeitos de cardiopatias valvulares.
Naja, tem  uma cefaleia frontal e temporal bem marcada com os sintomas cardíacos; O coração bate tumultuosamente. O paciente acorda ofegante. Naja causa fenómenos mais nervosos do que qualquer um dos venenos de cobra.
Com os venenos de serpente, os pés estão frios, porque o coração está muito fraco para forçar o sangue para a periferia. Todos os venenos de cobra causam inflamação do tecido celular. Consequentemente, os homeopatas consideram um sintoma valioso quando a celulite surge no decorrer de uma febre tifóide, difteria, etc.
Na difteria, Crotalus tem tido resultados na experiência clínica para a epistaxe recorrente.
A Elaps reclama atenção nos casos de hemoptise, quando o sangue é de cor escura, especialmente quando o pulmão direito é afectado.

Lateralidade direita: 
Crotalus horridus; Crotalus cascavella o lado da hemiplegia, é complementar a Lachesis, uma vez que completa a acção curativa; Elapscorallinus; Bothrops hemiplegia com afonia.
Lateralidade esquerda: Lachesis apoplexia, haverá paralisia extensa; Naja paralisia bulbar, controle do esfíncter será perdido; Vipera paraplegia de extremidades inferiores, paralisia ascendente, polioencefalite aguda e mielite.

Constrição da garganta, laringe e esfíncteres: 
Lachesis constrição da garganta, laringe e abdómen, com intolerância ao mínimo toque ou pressão, especialmente no pescoço. Haverá constrição no reto, aperto no ânus. Disfagia para líquidos como em BothropsElaps tem constrição da faringe. Alimentos e bebidas são de repente preso e "caem pesadamente no estômago." Crotalus horridus tem espasmos o paciente não será capaz de engolir quaisquer substâncias sólidas. Haverá uma intolerância à roupa em torno do estômago. Vipera rasga as suas roupas abertas devido a congestionamento violento no peito. Tem "angústia cardíaca com violentas dores no peito". Naja Agarra a garganta com uma sensação de sufocação. Tem constrição asmática na noite. Bothrops com constrição na garganta e dificuldade na deglutição, especialmente para líquidos.

Hemorragias de sangue negro escuro e não coagulável que escorre de todos os orifícios do corpo com equimose:
 Lachesis odor de sangue escuro, púrpura com prostração intensa, epistaxe, sangramento das gengivas. Haverá hemorragias das entranhas como "palha carbonizada", com partículas negras. Haverá um alívio geral pelo fluxo menstrual. Crotalus horridus sangue escuro não coagulante; diátese hemorrágica; hemorragia vítrea. O sangue escorre das orelhas. Haverá epistaxe onde o sangue será preto e fibroso; hemorragias persistentes; hemorragia intestinal; urina sanguinolenta; purpura hemorrágica; suor sanguinolento. Elaps epistaxe; hemorragias dos pulmões como tinta preta. hemorragia aquosa com dor no ápice do pulmão direito. Haverá tosse com expectoração de sangue negro. A hemorragia menstrual é negra. Actua na febre tifóide, úlceras, haverá hemorragias de sangue negro. Bothrops hemorragia na conjuntiva e vítrea; fezes sanguinolentas.
O veneno é destrutivo, tal como todos os ácidos e metais. Pertencendo à diátese sifilítica.

Nervos, especialmente afectados por venenos de serpente: nervo 
vago; nervo acessório espinal. 
Assim, caracteristicamente temos sintomas de laringe, respiração e coração. Os venenos de cobra causam constrição e asfixia devido à irritação do nervo pneumogástrico. Coração fraco, pés frios e tremores. Coloração amarelada da pele. Todos os medicamentos têm dispneia e sintomas cardíacos.

Acção no coração - Produzir palpitações, 
dispneia e lesões valvularesNaja o ritmo cardíaco é regular, contra indicado em lesões valvulares avançadas. Há uma dor de cabeça frontal e temporal bem marcada com os sintomas cardíacos. O paciente está sempre ofegante. Lachesis indicado nas doenças cardíacas reumáticas. Palpitação com desmaio, especialmente durante a menstruação ou  climatério; Cianose. Crotalus horridus palpitações, especialmente durante a menstruação. Bradicardia. 

Aparência do paciente: 
Doente, pálido, ansioso, edemaciado, vermelho escuro ou azulado, especialmente em Lachesis, Bothrops, Vipera. O rosto é amarelo em Lachesis e Crotalus.

Alteração dos reflexos 
espinais: Fraqueza da visão, excitabilidade do cérebro ou da medula espinal, resultando em inquietação mental e sensibilidade física, entorpecimento espasmos e formação. Ansiedade inicial, excitabilidade mental e sensibilidade excessiva. Alucinações e medo, seguidos de depressão nervosa que varia de debilidade a confusão, estupor, delírio e paralisia.

Periodicidade: V
ipera os sintomas retornam anualmente durante anos seguidos; Lachesis especialmente a febre intermitente, volta na primavera.

Climatério: Lachesis hemorragias, hemorróidas; cefaleia na ou após a menopausa. Crotalus horridus afrontamentos intensos e sudorese intensa de suor. Anemia profunda. Metrorragia prolongada; Líquido ofensivo escuro; Desmaio e afundamento no estômago. 

Sintomas Mentais: Elaps e Naja com medo da chuva. Elaps, Crotalus horridus, Crotalus cascavella sonhos com pessoas mortas. 

Acção hepática:  Lachesis - regiões hepáticas sensíveis. Não pode tolerar a roupa em torno da cintura. Vipera tem dores violentas.  Hepatoesplenomegalia com icterícia, febre e dores que se estendem para ombro e quadril.

Agravamento do sono: Lachesis logo que o paciente adormece, a respiração sessa. 

Disartria: 
Bothrops hemiplegia com afasia; Vipera A fala é difícil; Naja fala turva (paralisia bulbar).

Resultado de imagem para Naja tripudians
Naja tripudians - Acção profunda no coração, sistema nervoso, fraqueza com tosse e dispneia.

Mentais - Depressivo triste e ansioso com sensação de morte próxima; Delírio e alucinações frequentes.
Gerais - Palpitações frequentes que impedem de falar; Cefaleia com dor temporal esquerda e sobre o olho esquerdo irradiando para a região occipital; Coração regular no ritmo, mas irregular na força; Tosse com estrangulamento e sufocação; Dores cardíacas intensas irradiam para a nuca, escápula e braço esquerdo.

Agrava -
 Na menstruação; pelo movimento; esforço; toque; noite; pelo uso de estimulantes; deitando-se sobre lado esquerdo.
Melhora - Andar ao ar livre, fumar.

Clínica: 
Angina de peito. Aneurisma. Endocardites agudas e crónicas. Púrpura, Taquicardia. Perturbações cardíacas. A sua especial actuação: na sensação de ovário esquerdo e o coração parecerem reunidos por um fio.

Crotalus horridus - Prostração profunda com desorganização de todos os tecidos. Estado tifóide. 

Mentais -Tristeza. Humor choroso. Aversão aos membros da família. Sensível a certas pessoas. Murmura, fala consigo mesmo.Fraqueza de memória para nomes, pessoas, lugares. Erros ao falar e escrever.Ilusão de animais amedrontadores, caindo da cama, cercado por inimigos.
Gerais - Odor a mofo do nariz e hálito. Fraqueza repentina.Cefaleia congestiva occipital com sensação de latejante, que agrava do lado direito. Coloração amarela das conjuntivas. Tosse com expectoração de sangue, com muito mau odor. Vertigem com zumbido; foto fobia. Insónia. Sonha com a morte, com cadáveres. Sente o odor dos corpos em putrefacção. Agitação durante a noite. Range tanto os dentes, quando deitado, que estes acabam por se desgastar. Acorda cansado e lento. Fica esgotado ao menor exercício, as pernas tremem-lhe. Cabeça pendente.
Hemiplegia direita. Fraqueza cardíaca, palpitações com a sensação como se o coração caísse. Gengivas que sangram facilmente.
Grande tendência ás hemorragias, por todos os orifícios do corpo. O sangue é escuro, espesso e não coagula. Púrpura hemorrágica. Septicemia. Epistaxe com sangue escuro, escorrendo em longos filamentos. Sensação de aperto na garganta, que o impossibilita de engolir qualquer alimento sólido.
Não suporta roupas apertadas no abdómen. Diarreia com fezes pequenas e ensanguentadas. Fígado dorido e aumentado. Icterícia.
Vómitos quando se deita sobre o lado direito. 
Desejo de carne de porco e álcool.

Agrava - Deitado do lado direito; de manhã ao acordar; ao ar livre; pelo movimento; na Primavera, mas com tempo quente 
Melhora - Repouso.


Elaps Corallinus Hemorragias de sangue escuro; Sensação interna de frio gelado.
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Mentais -  Medo que o deixem só. Quando está deprimido quer ficar sozinho.  Medo de ter uma doença fatal ou de não recuperar.  Tem horror à chuva. 

Gerais - Hemorragias e descargas de sangue escuro, que não coagula. Sensação de frio interior e sensação de frio no peito e no estômago. Paralisia do lado direito.
Vertigem com tendência a cair para a frente. Coriza crónica com crostas esverdeadas. 
Corrimento de sangue escuro entre dois períodos.

Agrava - Ingestão de coisas frias; À noite; Pelo calor do leito; Vento e tempo húmido; Chuva; Toque.

Melhora -
 Repouso



Resultado de imagem para Bothrops lanceolatusBothrops lanceolatus - Acção profunda sobre o Sangue, tendência a Hemorragias-Gerais - Grande fadiga, preguiça intelectual; faces ébrio; hemiplegia com afasia, tremores; hemorragia retiniana com visão diminuída, mal pode ver o sol; hemorragia conjuntiva; hemorragias intestinais; hematemese de sangue escuro; timpanite; púrpura, manchas equimóticas espontâneas, erisipela; gangrena.

Clínica: Hemorragias retinianas, gástricas, intestinais. Petéquias.

Tromboses e suas consequências: hemiplegia, afasia, disartria. Septicemia




Referências: